terça-feira, 28 de abril de 2015

Navegante

Lá estava ela, de frente pro rio. O sol que batia no seu rosto aos poucos foi contornando a curva do seu corpo, marcando o tempo. Já era hora, ela sabia, mas a vontade de ficar tomava-lhe o desejo. Vento frio, água em frente, corpo inerte na beleza que apenas "era". O barulho do motor do barco e seu movimento acompanhando o fluxo lembrava: "sempre em frente, nunca pra trás".





Corpo sigilo


Um grito mudo quebra o sigilo, é preciso falar! Aos poucos as dores pesadas que vestiam aquele corpo tomam forma. No espelho, a imagem paralisada da menina nua, com cabelos longos e leves que se deixam levar pelo vento em movimentos de liberdade, faz chorar. Linda imagem reflexa, projetada por um corpo preso, mudo, sigiloso. Não se pode contar, é preciso guardar o que viveu, como algo sujo. A palavra é proibida, as frases que compunham a história aos poucos vão perdendo-se no tempo que corre apressadamente, mas vez ou outra o tropeço faz lembrar: é preciso falar! Então aqui está ela, de frente pro espelho, contemplando a beleza da menina nua, lembrando que esse corpo ainda está vestido com peso.