sábado, 26 de fevereiro de 2011




Fácil seria escolher uma frase de tantas outras que existem em músicas por ai para tentar explicar o que vivi, mas há horas me pego pensando sobre tudo e não consigo chegar a um consenso.
Hoje eu precisava pegar aquele ônibus, e com uma paciência nunca sentida antes, dar boa noite ao motorista, sentar do lado da janela, encostar a cabeça e sentir o vento passar pelo meu rosto e pensar...e pensar em que? O que devia ter sido pensado hoje?
O carinho me marcou tanto que por algumas horas fiquei pensando sobre ele, as vezes com um certo receio de me confundir. Confundir? Ficou tão claro: eu te amo! Sim, é isso, te amo! Há tantas formas de se amar alguém, e pra nós ficou reservado a melhor parte, o amor livre, o amor amigo.
O difícil é transformar sentimento em coisas explicáveis porque ele, por não ser coisa, acaba ficando na memória como um momento. E foi isso que eu senti: cheiro, aconchego e amor.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A paixão segundo C. S.

" Por enquanto estou inventando a tua presença, como um dia também não saberei me arriscar a morrer sozinha, morrer é do maior risco, não saberei passar para a morte e pôr o primeiro pé na primeira ausência de mim - também nessa hora última e tão primeira inventarei a tua presença desconhecida e contigo começarei a morrer até poder aprender sozinha a não existir, e então eu te libertarei. Por enquanto eu te prendo, e tua vida desconhecida e quente está sendo a minha única íntima organização, eu que sem a tua mão me sentiria agora solta no tamanho enorme que descobri. No tamanho da verdade?
Mas é que a verdade nunca me fez sentido. A verdade não me faz sentido! É por isso que eu a temia e a temo. Desamparada, eu te entrego tudo - para que faças disso uma coisa alegre. Por te falar eu te assustarei e te perderei? mas se eu não falar eu me perderei, e por me perder eu te perderei.
A verdade não faz sentido, a grandeza do mundo me encolhe. Aquilo que provavelmente pedi e finalmente veio no entanto me deixar carente como uma criança que anda sozinha pela terra. Tão carente que só o amor de todo o universo por mim poderia me consolar e me cumular, só um tal amor que a própria célula-ovo das coisas vibrasse com o que estou chamando de um amor. Daquilo a que na verdade apenas chamo mas sem saber-lhe o nome.
Terá sido o amor o que vi? Mas que amor é esse tão cego como o de uma célula-ovo? foi isso? aquele horror, isso era amor? amor tão neutro que - não, não quero ainda me falar, falar agora seria precipitar um sentido como quem depressa se imobiliza na segurança paralisadora de uma terceira perna. Ou estarei apenas adiando o começar a falar? por que não digo nada e apenas ganho tempo? Por medo. É preciso coragem para me aventurar numa tentativa de concretização do que sinto. É como se eu tivesse uma moeda e nçao soubesse em que país ela vale.
Será preciso coragem para fazer o que vou fazer: dizer. E me arriscar a enorme pobreza da coisa dita. Mal a direi, e terei que acrescentar: não é isso, não é isso! Mas é preciso também não ter medo do ridículo, eu sempre preferi o menos ao mais por medo também do ridículo: é que há também o dilaceramento do pudor. Adio a hora de me falar. Por medo?"

Fragmento da Paixão segundo G.H. Comecei a grifar as frases que diziam exatamente algo sobre mim e acabei grifando esses cinco parágrafos.