segunda-feira, 19 de julho de 2010

Torta




Sentia agora o peso de ser torta.
Queria desesperadamente abraçar o mundo com os braços abertos...
...Ora, que desejo besta,
Como abraçar algo que visivelmente, por seu tamanho, não pode ser abraçado?
Investia-se de uma liberdade onipotente
E acreditava tanto nesta liberdade
que jogava-se de peito aberto
que desejava tantas coisas,
que via-se num número tão infinito de possibilidades
Que desejava abraçar o mundo de braços abertos.
E diante da impossibilidade do seu desejo
Via-se impotente diante do mundo.
Via-se torta,
Tão torta, tão torta
que mal conseguia escrever versos direto.
E por isso,
por não conseguir escrever versos e por não conseguir abraçar o mundo
sentia o peso de ter fingido ser livre

domingo, 11 de julho de 2010

Olhando para o céu




Só hoje percebi que nunca olhei pro céu. Não sei, parece que nunca havia reparado como as cores são bonitas, o céu de um azul intenso, e as nuvens com um branco chamativo, que às vezes se mescla com tom acinzentado, que não o faz ficar menos lindo.
E se as pessoas fossem feitas pra voar? Será que eu teria notado há mais tempo as cores do céu? Talvez as pessoas sejam feitas pra andar de cabeça erguida, e por isso nunca o tinha reparado, e percebia agora, com tanta surpresa, que nunca havia andado de cabeça erguida. Talvez olhar para cima seja uma conseqüência das decisões que tenho tomado ultimamente. Tenho me olhado de uma forma nova, e percebido com tanta admiração para as minhas outras possibilidades.
“Perder-se também é um caminho”, como diria Clarice Lispector, mas pensando assim, parece muito mais fácil se perder, porque qualquer outro caminho sem ser o caminho certo é o caminho para se perder, e continuando o raciocínio, perder-se teria, assim, um número infinito de possibilidades.
E hoje eu consigo encontrar uma possibilidade só: eu. Me descobri como uma possibilidade de mim mesma, e percebi o porque eu procurava um caminho, porque queria me encontrar. E hoje eu consegui encontrar o caminho certo pra mim, um caminho que parece me levar a ficar de frente a um espelho, um caminho pra chegar até mim.
Me vejo ainda como um vazio, um silêncio, o mesmo silêncio que existe quando olho para o céu, ou quando eu sento de baixo de uma árvore e fico horas olhando para o rio e o seu movimento contínuo para o nada. O que um rio haveria de querer dizer? E com a mesma admiração de quem olha pela primeira vez o mundo de frente e com a cabeça erguida, e com um caminho certo, hoje eu queria me dizer, e desenhar nesse vazio o meu contorno.