quarta-feira, 8 de julho de 2015

Desassossego

É madrugada. Entre um sonho e outro, pesadelo. Acordo. O sono me chama novamente, a cama é confortável, o edredom traz o calor do conforto que preciso. Mas não consigo dormir. A cabeça fervilha com o desassossego. Desassossegada. 
Nos últimos tempos tenho tido dificuldade para escrever, então, nessa madrugada resolvi despir-me. Gosto de pensar na escrita como um movimento de tirar a roupa, porque cotidianamente carrego roupas tão pesadas, camadas e mais camadas de roupas que me impedem de olhar-me na completude da nudez. Na verdade, não me impedem, não são elas as culpadas pela minha cegueira. Sou eu que me escondo debaixo de tanta roupa. Por isso, como escrever é dispor-se a falar sobre o que é realmente significativo, começarei a tirar a roupa.
Meu desassossego tem contorno definido. Sei onde começou, embora poucas vezes olhe para ele com olhos abertos e atentos. Mas ontem, ouvindo falar de amor, fui tocada. Não consigo amar. Ao escutar falar de amor, deparei-me logo com um ceticismo que não acreditava que tinha. Eu costumava ser uma menina doce, intensa. Vivia sendo advertida pelos meus amigos dos perigos de amar com coração cheio, de dizer mais "sim" que "não". Hoje, ao contrário, desacredito. Quero o "não", até me convencer de que pode virar "sim". Já não me deixo levar tão despretensiosamente numa conversa, desacredito. 
Talvez, já estando mais perto dos trinta que dos vinte, tenha aprendido o desamor.

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