segunda-feira, 28 de março de 2011
Imaginando uma fotografia
"Eu ando a pé porque é assim que se anda" (Música do falecido Ultraleve)
Hoje resolvi dispensar meios fora do corpo e andar! Me senti independente, e talvez por isso tenha gostado tanto de me despir da preguiça e andar por um longo caminho. Percebi novas coisas sobre essa caminho que parecia tão clichê. Descobri uma venda de tacacá, vi um senhor parado, fumando um cigarro e pensando na vida. Ele estava numa passarela. Enquanto eu passava por ela, e antes de me deparar com esse senhor, fiquei pensando no quanto a vista dali era bonita. Era diferente olhar os carros vindo na sua direção e saber que você não vai morrer por causa disso. Tive muita vontade de ficar parada alí, olhando esse movimento, mas como as passarelas são consideradas perigosas, segui em frente. Foi ai que eu vi esse senhor, tão despreocupado. Deu vontade de tirar uma fotografia em preto e branco.
Numa moldura:
Uma fotografia em preto e branco. Um senhor de meia idade, com os cabelos grisalhos e com um cigarro na mão, sem pressa de terminar, olhando o movimento dos carros numa vista privilegiada da Almirante Barroso.
Uma fotografia lindíssima!
Se eu pudesse acrescentar mais algum elemento colocaria um clima frio, com vento levemente gelado passando pelo seu rosto e fazendo seu olhar lagrimar e um cheiro de lavanda.
sábado, 26 de fevereiro de 2011
Fácil seria escolher uma frase de tantas outras que existem em músicas por ai para tentar explicar o que vivi, mas há horas me pego pensando sobre tudo e não consigo chegar a um consenso.
Hoje eu precisava pegar aquele ônibus, e com uma paciência nunca sentida antes, dar boa noite ao motorista, sentar do lado da janela, encostar a cabeça e sentir o vento passar pelo meu rosto e pensar...e pensar em que? O que devia ter sido pensado hoje?
O carinho me marcou tanto que por algumas horas fiquei pensando sobre ele, as vezes com um certo receio de me confundir. Confundir? Ficou tão claro: eu te amo! Sim, é isso, te amo! Há tantas formas de se amar alguém, e pra nós ficou reservado a melhor parte, o amor livre, o amor amigo.
O difícil é transformar sentimento em coisas explicáveis porque ele, por não ser coisa, acaba ficando na memória como um momento. E foi isso que eu senti: cheiro, aconchego e amor.
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
A paixão segundo C. S.
" Por enquanto estou inventando a tua presença, como um dia também não saberei me arriscar a morrer sozinha, morrer é do maior risco, não saberei passar para a morte e pôr o primeiro pé na primeira ausência de mim - também nessa hora última e tão primeira inventarei a tua presença desconhecida e contigo começarei a morrer até poder aprender sozinha a não existir, e então eu te libertarei. Por enquanto eu te prendo, e tua vida desconhecida e quente está sendo a minha única íntima organização, eu que sem a tua mão me sentiria agora solta no tamanho enorme que descobri. No tamanho da verdade?
Mas é que a verdade nunca me fez sentido. A verdade não me faz sentido! É por isso que eu a temia e a temo. Desamparada, eu te entrego tudo - para que faças disso uma coisa alegre. Por te falar eu te assustarei e te perderei? mas se eu não falar eu me perderei, e por me perder eu te perderei.
A verdade não faz sentido, a grandeza do mundo me encolhe. Aquilo que provavelmente pedi e finalmente veio no entanto me deixar carente como uma criança que anda sozinha pela terra. Tão carente que só o amor de todo o universo por mim poderia me consolar e me cumular, só um tal amor que a própria célula-ovo das coisas vibrasse com o que estou chamando de um amor. Daquilo a que na verdade apenas chamo mas sem saber-lhe o nome.
Terá sido o amor o que vi? Mas que amor é esse tão cego como o de uma célula-ovo? foi isso? aquele horror, isso era amor? amor tão neutro que - não, não quero ainda me falar, falar agora seria precipitar um sentido como quem depressa se imobiliza na segurança paralisadora de uma terceira perna. Ou estarei apenas adiando o começar a falar? por que não digo nada e apenas ganho tempo? Por medo. É preciso coragem para me aventurar numa tentativa de concretização do que sinto. É como se eu tivesse uma moeda e nçao soubesse em que país ela vale.
Será preciso coragem para fazer o que vou fazer: dizer. E me arriscar a enorme pobreza da coisa dita. Mal a direi, e terei que acrescentar: não é isso, não é isso! Mas é preciso também não ter medo do ridículo, eu sempre preferi o menos ao mais por medo também do ridículo: é que há também o dilaceramento do pudor. Adio a hora de me falar. Por medo?"
Fragmento da Paixão segundo G.H. Comecei a grifar as frases que diziam exatamente algo sobre mim e acabei grifando esses cinco parágrafos.
Mas é que a verdade nunca me fez sentido. A verdade não me faz sentido! É por isso que eu a temia e a temo. Desamparada, eu te entrego tudo - para que faças disso uma coisa alegre. Por te falar eu te assustarei e te perderei? mas se eu não falar eu me perderei, e por me perder eu te perderei.
A verdade não faz sentido, a grandeza do mundo me encolhe. Aquilo que provavelmente pedi e finalmente veio no entanto me deixar carente como uma criança que anda sozinha pela terra. Tão carente que só o amor de todo o universo por mim poderia me consolar e me cumular, só um tal amor que a própria célula-ovo das coisas vibrasse com o que estou chamando de um amor. Daquilo a que na verdade apenas chamo mas sem saber-lhe o nome.
Terá sido o amor o que vi? Mas que amor é esse tão cego como o de uma célula-ovo? foi isso? aquele horror, isso era amor? amor tão neutro que - não, não quero ainda me falar, falar agora seria precipitar um sentido como quem depressa se imobiliza na segurança paralisadora de uma terceira perna. Ou estarei apenas adiando o começar a falar? por que não digo nada e apenas ganho tempo? Por medo. É preciso coragem para me aventurar numa tentativa de concretização do que sinto. É como se eu tivesse uma moeda e nçao soubesse em que país ela vale.
Será preciso coragem para fazer o que vou fazer: dizer. E me arriscar a enorme pobreza da coisa dita. Mal a direi, e terei que acrescentar: não é isso, não é isso! Mas é preciso também não ter medo do ridículo, eu sempre preferi o menos ao mais por medo também do ridículo: é que há também o dilaceramento do pudor. Adio a hora de me falar. Por medo?"
Fragmento da Paixão segundo G.H. Comecei a grifar as frases que diziam exatamente algo sobre mim e acabei grifando esses cinco parágrafos.
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