domingo, 7 de novembro de 2010

Medo

Impossível prever o caminhar das coisas, assim como é impossível pedir: "não me machuque!". Se fosse possível, pediria dez mil vezes para ter certeza de que meu pedido seria ouvido, e atendido.
E hoje parece que nem os meus pedidos e nem a minha subentendida fragilidade são suficientes para não me machucar.
Tudo parece estar por um fio, e minha vida parece caminhar uma linha tênue.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

como dizer "adeus?"

Um texto na cabeça, um cheiro incrivelmente bom pra lembrar e uma lágrima caindo.

sábado, 28 de agosto de 2010




É tão difícil encontrar palavras de uma fala autêntica, porque me parece que tudo que eu tenho falado são falas sobre falas, histórias repetidas.
Mas agora acabou de me ocorrer de que eu estou tão cansada.
Acabei de descobrir que adoro inventar romances com medo de ficar só. Como a G.H., num dos livros da Clarisse Lispector, que vive repetindo "dê-me tua mão, porque sinto qu estou indo pra perdição da minha vida". Mas aqui estou, de frente pro grande silêncio do horizonte, só, e feliz. Já não tenho medo.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Sessão de terapia

A voz começou a ficar cada vez mais baixa, não por vergonha ou por vontade de não falar tudo aquilo, mas porque o que se dizia era tão importante e a tocava tanto que o nó na sua garganta e a vontade iminente de chorar obrigavam-na a diminuir o tom de voz, como se tudo aquilo lhe empurrasse para dentro de si.
Aquela sessão não fora diferente das outras, há tempos sentia que aquele discurso retilíneo e coerente escondia dentro de si as reais causas de toda aquela dor que sentia.
A sensação de estar incompleta era tamanha, e já fazia tanto tempo, que havia se acostumado com a idéia de ser só no mundo. Um lugar seguro. Porém, começar a falar dessa solidão abriu espaço para relembrar cada pedaço perdido. Foi quando começou a chorar.
Colocou a mão no peito, como que tentando acalmar seu coração, que agora batia descompensadamente.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Torta




Sentia agora o peso de ser torta.
Queria desesperadamente abraçar o mundo com os braços abertos...
...Ora, que desejo besta,
Como abraçar algo que visivelmente, por seu tamanho, não pode ser abraçado?
Investia-se de uma liberdade onipotente
E acreditava tanto nesta liberdade
que jogava-se de peito aberto
que desejava tantas coisas,
que via-se num número tão infinito de possibilidades
Que desejava abraçar o mundo de braços abertos.
E diante da impossibilidade do seu desejo
Via-se impotente diante do mundo.
Via-se torta,
Tão torta, tão torta
que mal conseguia escrever versos direto.
E por isso,
por não conseguir escrever versos e por não conseguir abraçar o mundo
sentia o peso de ter fingido ser livre

domingo, 11 de julho de 2010

Olhando para o céu




Só hoje percebi que nunca olhei pro céu. Não sei, parece que nunca havia reparado como as cores são bonitas, o céu de um azul intenso, e as nuvens com um branco chamativo, que às vezes se mescla com tom acinzentado, que não o faz ficar menos lindo.
E se as pessoas fossem feitas pra voar? Será que eu teria notado há mais tempo as cores do céu? Talvez as pessoas sejam feitas pra andar de cabeça erguida, e por isso nunca o tinha reparado, e percebia agora, com tanta surpresa, que nunca havia andado de cabeça erguida. Talvez olhar para cima seja uma conseqüência das decisões que tenho tomado ultimamente. Tenho me olhado de uma forma nova, e percebido com tanta admiração para as minhas outras possibilidades.
“Perder-se também é um caminho”, como diria Clarice Lispector, mas pensando assim, parece muito mais fácil se perder, porque qualquer outro caminho sem ser o caminho certo é o caminho para se perder, e continuando o raciocínio, perder-se teria, assim, um número infinito de possibilidades.
E hoje eu consigo encontrar uma possibilidade só: eu. Me descobri como uma possibilidade de mim mesma, e percebi o porque eu procurava um caminho, porque queria me encontrar. E hoje eu consegui encontrar o caminho certo pra mim, um caminho que parece me levar a ficar de frente a um espelho, um caminho pra chegar até mim.
Me vejo ainda como um vazio, um silêncio, o mesmo silêncio que existe quando olho para o céu, ou quando eu sento de baixo de uma árvore e fico horas olhando para o rio e o seu movimento contínuo para o nada. O que um rio haveria de querer dizer? E com a mesma admiração de quem olha pela primeira vez o mundo de frente e com a cabeça erguida, e com um caminho certo, hoje eu queria me dizer, e desenhar nesse vazio o meu contorno.

sábado, 1 de maio de 2010

"Cecília"

“O que desejo não me toma”. Esta frase havia ecoado durante todo o dia no pensamento de Cecília. Como o barulho da televisão ao fundo da cena principal de um filme, esta frase parecia apenas mais um devaneio, algo despretensioso no qual ela havia pensado ao longo dia. Porém nos últimos dias os devaneios tinham tomado tanto o seu pensamento, afligindo-lhe tanto, que este pareceu apenas mais uma desculpa para rever a sua sanidade. O que haveria de ser?
Embora Cecília sempre tivesse sido uma mulher muito frágil, inconstante e indecisa, muito cedo tomou a decisão de que moraria sozinha, o que causou grande surpresa entre seus familiares, que esperavam para ela uma vida pacata. Cecília tomou a decisão de que moraria sozinha, prestou concurso para um órgão público e, rapidamente, atingiu um bom patamar financeiro para comprar o que bem entendesse. Assim, tinha sua casa, seu carro, seu emprego bem remunerado, o que mais uma pessoa independente haveria de querer?
Conforme se aproximava a noite, as palavras que haviam impregnado seus devaneios o dia todo aumentavam de volume e exigia de Cecília uma concentração muito maior para tentar dispersá-los.
A noite era, para ela, a pior parte do dia. A escuridão que tomava o lado de fora da janela somava-se à de seu quarto, formando um clima mórbido, de sentimentos sombrios que causavam tanto desconforto que era muito fácil libertar todos seus sentimentos escondidos durante o dia. Uma liberdade óbvia e absurda.
“O que desejo não me toma”. Se antes, poder-se-ia comparar esta frase ao barulho da televisão ao fundo, naquele instante já não seria mais possível fazê-lo. Tratava-se, talvez, de um delírio, uma obssessão.
Cecília achou que poderia ser estresse. Afinal, a carga de trabalho na repartição havia aumentado e, profissional exemplar que sempre foi, tentava dar conta de todas as demandas que ali surgiam, mesmo com a precariedade estrutural característica de seu espaço de trabalho.
Resolveu, então, tomar um banho quente, para quem sabe assim, poder descansar, esquecer-se do estresse e pensar em algo que não fosse aquela misteriosa frase sussurada ao seu ouvido.
No banho, Cecília tentou relaxar, tocar seu corpo suavemente, sentir a água morna percorrer sua pele. Encerrado esse momento, sentou-se diante do espelho e começou a enxaguar o cabelo. Enquanto Cecília massageava seu cabelo, sentiu-se como que intimada pela voz que sussurrava a frase ainda mais alto, num tom cada vez mais imperativo. Fingindo não ligar para isto, ela penteava lenta e cuidadosamente seus longos e bem cuidados cabelos.
Todavia, sem saber muito bem por que, já muito próximo do fim de concluir seu trabalhoso penteado, resolve descer suas mãos até o púbis. Que coisa louca pensar em sentir prazer assim, sem tem porque, por razão ou outra coisa qualquer. Um gesto sutil, suave, fácil, reprimido, aos poucos foi tomando corpo, movimento, desejo. Nunca tinha sentido tal prazer, e agora sozinha, livre, olhava para si e tinha a fome de viver todo o somatório indefinido de possibilidades que sua existência lhe exigia.
Junto à sua experiência única, sentiu vontade de assanhar seus cabelos com a toalha. Não era um assanhamento qualquer. Quanto mais Cecília se assanhava, mais vontade sentia de fazê-lo e com uma força e intensidade cada vez maiores. Não seria preciso se olhar no espelho para perceber que seu aspecto naquele momento já diferia bastante daquele que apresentava cotidianamente. Estava asssanhada? Obviamente que sim. Mas que sentimento era este para uma mulher sempre tão elegante? E ao se perguntar isto, a primeira palavra que imaginou foi: liberdade.
Havia muito, por mais contraditório que lhe parecesse, a mulher independente não se sabia livre. Fazia alguns minutos que não mais ouvia aquela perturbadora frase. Diante de si, então, percebia-se como a garota que, logo cedo, em busca de sua independência, resolvera sair de casa. Desta vez, porém, frágil, sozinha e sedenta por vida.
Não queria abrir mão do que conquistara até ali. Porém, percebeu, pela primeira vez em muitos anos, que sair de casa havia sido seu último grito de liberdade e que aquela menina assanhada, nua, sozinha e agora livre que olhava para si tinha a fome de viver poesia. Assim, ainda sem roupa, Cecília andou por sua casa e a liberdade que a nudez lhe fazia sentir era experimentada com a mesma gula que afeta os famintos. Sem se aperceber, andou e dançou pela casa horas a fio. O que uma poetisa poderia fazer se não, despida de todas as roupas que havia carregado pesadamente há tempos junto ao corpo, dançar?
E, tomada pelo cansaço e pela sua liberdade, caiu, nua, no sofá da sala, com a convicção sentida de que nunca mais seria a mesma.

Caroline Souza e Emanuel Meireles

sábado, 20 de março de 2010


Menino, a lente é vidro de aumentar visão.
Ninguém te contou, não?
As coisas podem ser simples,
tão simples.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Quem me dera poder evitar a dor
mas ela chega tão devagar,
e quase como sem querer me toma de uma forma inesgotável!
Ah, quem me dera ser bonita,
quem me dera ser inteligente,
quem me dera não terminar esse post fazendo versinhos tolos,
Ah, quem me dera dizer o que penso, não sentir o que sinto,
quem me dera fazer tudo diferente.

Os dias têm sido estranhamente familiares,nós quatro sempre tão juntos, a rotina sempre tão certa, um amor sempre tão incerto. Acho que é por essa familiaridade que ando tão distraida, relembrando pensamentos dolorosos, mas acaba sendo tão inevitável que a cada dia revejo meu conceito de normalidade.
Ah! O que foi que ele fez? O que aconteceu comigo? Por quê não foi diferente? Por que eu não pude escolher? Ah! Ah! Ah!

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

I lost myself


Me perdi em alguma parte do caminho, e com um certo saudosismo, impeço qualquer um voltar as curvas da estradas de Santos para procurar.