sábado, 28 de junho de 2014
O que é bom reverbera
Cheguei na metade. As pessoas já pareciam estar num ritmo próprio, ou melhor, próprio do lugar porque eu, chegando atrasada, ainda me sentia fora - era eu, e eles.
Sentei num lugar qualquer longe do olhar de todos, não queria atrapalhar, chamar atenção, ser vista. Mas, como quase que um convite sem a oportunidade de negar, entrei na roda. Fechei meus olhos e não tive vergonha - as vezes deixo de fazer o que eu quero por vergonha. Senti seu ritmo. Todos batiam de formas diferentes mas eu conseguia perceber, era o coração. Cada um com seu coração, cada coração batendo com substâncias diferentes. O que estava na minha direita começou com as mãos e o chão de madeira. Outro lá no canto também usava as mãos e madeira, mas o ritmo era diferente. Eu, ainda com meus olhos fechados, batia palmas. Eu, ainda com meu olhos fechados. Eu, ainda com meus olhos fechados me lembrei de tanta coisa. Lembrei tanto que por um milésimo de segundo senti a presença do Michel ao meu redor. Era o seu cheiro e o cheiro do Rio de Janeiro, aquele cheiro bom de "pode fazer tudo". O som do metrô, o vento frio que passava pela gente naqueles dias de chuva de dezembro, o quatro só nosso, os cafés da manhã que viravam almoço por acordar perto do meio dia. Aquele cheiro de tudo entrou rasgando minhas narinas. Doeu. Chorei. E quis mais. Tudo que é bom, um dia, reverbera.
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