quarta-feira, 11 de junho de 2014

Sobre ela e o tempo

Não precisava de espelho para olhar-se. Não conseguia. A imagem que se refletia naquele objeto já ecoava no conceito que fazia de si. Bruxa. Bruxa e magra. Bruxa por conta dos cabelos que, com a idade, não tomavam mais uma forma harmoniosa. Estavam secos. Ela estava seca. Sua pele não era mais a mesma. Ao enxugar-se percebia que mesmo a grande quantidade de água usada durante o banho não era capaz de hidratá-la. Essa mesma pele ressecada marcava-lhe o interior, porque sua falta de tecido adiposo revelava suas veias, grandes e ressaltadas, além de cobrir e desenhar o contorno dos ossos. Mas de todas as marcas que o tempo havia lhe deixado o maior e mais expressivo era o olhar. Cansado. Cansado e vazio. Com dificuldade reagiam com alegria ou se banhavam de lágrimas diante de alguma notícia. Sua pele era a única coisa que a revelava, mas eu queria mesmo conhecê-la pelo olhar. Caroline Maciel

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